domingo, 20 de fevereiro de 2011

Romance em pó


Toda vez que perco a paciência com o ser humano, lembro daquela noite. Você tinha os olhos loucos pelo mundo, pelas minhas pernas naquele vestido de verão e meus pés descalços. Como nessa época do ano eu dou pra odiar todo mundo, tenho pensado muito em ti.
Espero que um dia eu possa te ver de novo. Até talvez explicar dialeticamente o que eu sempre quis dizer com ter medo de ter medo de ter medo, coisa que você talvez nunca entenderia ao certo. Homens. Medo só sente quem tem coragem, quem arrisca, quem se dá. E eu, do alto do meu salto quinze, a única altura que meus nervos femininos conseguiam suportar, sempre fui a antítese de tudo que deseja uma mulher. Em tese.
Naquele verão que eu te queria tanto e não encontrava um jeito avassalador de dizer, eu daria minha vida por você, pois igual minha vida não valia muita coisa - você bem pôde ver nas noites e noites me assistindo dançar em tantas outras bocas que não a sua. É que amor, sabe, sei lá. O que vou fazer se quando você sentava do meu lado e ficava em silêncio, fitando lá longe, onde ia nosso encontro por acaso, eu só conseguia ver horizontes e nenhuma fronteira? Acho que amor é tipo um esporte radical, quem não pratica morre de medo, se sente incapaz e todo aquele salto impossível repetir.
E você, exatamente você e seu jeito de me balançar sorrindo com piadas bobas, era o tipo de distração que minha vida precisava. Eu era de sorrir com piadas bobas, aliás, eu era garota de sorrir, e de gostar de alguém que sai na rua de calça jeans, havaianas branca e barba de anos, nem aí pra ninguém e a cara suja e louca por todo mundo. E, que raiva me dá cada vez q paro pra pensar e chego a conclusão de que você seria o homem perfeito com sua combinação charmosamente bizarra de calça jeans, havaianas branca e barba de anos.
Nunca gostei de sonhar e crer em pessoas, por isso o auê naquela madrugada que você me fez subir, e me beijou, sem pedir nada em troca. Droga, viu? Da minha ilha emancipada, cercada de sombra e mar revolto, vem você, invade, e faz um país. Não foi uma luta justa, eu lá me esforçando pra ser mulher e você estrala os dedos, puxa meu queixo e me faz menina tudo outra vez. E até hoje você atrasa minha vida trazendo à tona essa visão meiga que faz salivar em reuniões corporativas presididas por fortes concorrentes ao prêmio Top Ser Humano Idiota de 2010.
Hoje eu vivo naquele mesmo tempo que não te conhecia. O mundo era chato e ninguém usava calça jeans, havaianas de R$ 7,90 e barba por fazer desde o fim da guerra fria. Um mundo abandonado sem alguém com os olhos loucos por ele. E nem por mim e minha mania de não sentar no banco do carona com modos de menina.
Lembra? Eu disse que amor não era questão de azar ou sorte, mas de habilidade, coisa que nunca fui muito expert. Você bem disse que amor que nunca acontece não vira pó, vira poesia. Então cá estou, lembrando você transbordando do mundo e pensando que você seria mesmo o homem perfeito sem aquele chinelo horroroso, mais a calça e a barba. Também, se não for, vou continuar sendo assim, chegada em romances curtos e instantâneos que me atrasam para sempre.

3 comentários:

  1. nossa que lindo isso!!!
    vejo algumas semelhanças com alguem que conheço , mas o que vale nesta vida senão , amar,amar e amar!!!!
    que este amor seja eterno enquanto dure , como dizia Vinicius , o homem que mais entendia de amor !!!
    bjão

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  2. Olá Silvia! Que bom que gostou!
    Ah, e qualquer semelhança é mera coincidência...hahahaha

    Já dizia Clarice Lispector - Mas há a vida que há para ser vivida, há o amor. Há o amor. Que é para ser vivido até a última gota. Sem medo. Não mata.

    Então, que assim seja, né?
    Bjão!

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  3. lindo G,

    como disse minha mãe falando sobre o Vinicius de Moraes. ele falava do Amor e das Paixões q sempre valem a pena, mesmo qdo não é infinito.

    bjão linda

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