domingo, 24 de outubro de 2010

Velha infância...

Queria voltar a ser criança, quando joelhos ralados curam mais rápido que corações partidos. Quando não existe espaço para maldade, falsidade ou mágoas. Já repaou quanto tempo dura a tristeza de uma criança depois de uma bronca dos pais, ou de alguma briga com outra criança? O tempo que demora pra mãe chamar pro colo de volta, ou do amigo emprestar de novo a bola de futebol...
Queria voltar a ser criança, quando pai e mãe ainda estão por perto, no controle, com papel de super heróis, respondendo a todas as suas perguntas, com colos e carinhos sempre disponíveis...
Queria voltar a ser criança....
Sorrir mais,
se preocupar menos,
tomar mais banhos de chuva de verão,

viver leve....e mais feliz....

segunda-feira, 11 de outubro de 2010



Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso.


(C.F.)

Caio Fernando Abreu.



E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda.

O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida.

Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis.


Meu coração tá ferido de amar errado.


Acho espantoso viver, acumular memórias, afetos.

É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado.

Chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás.

Desistir não é nobre. E arduamente, não desistimos.

Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo...



Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.



Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.

Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.

Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)



Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.


Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva pra Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo bem.